23 de novembro de 2011

Mais um sambista que se vai. Toniquinho Batuqueiro, sambista da Pauliceia

Toniquinho Batuqueiro era dos grandes. Um sambista que viveu, participou e respirou samba por toda a vida. Vivendo, sambando, acompanhou todas as transformações do ritmo na Pauliceia: do tambu ao surdo, passando pela zabumba. Do samba rural ao samba urbano, dos cordões às escolas de samba.

O samba deve muito a ele, que partiu neste dia 23 de novembro.

Descanse em paz, mestre.


28 de outubro de 2011

É hoje! Centenário Nelson Cavaquinho


Há quem suponha que Nelson Cavaquinho nasceu no dia 29 de outubro. No entanto, a data correta é dia 28, mesmo dia de nascimento de outro gênio, Garrincha. Quem confirma é o próprio, no depoimento dado a Fernando Faro no programa MPB Especial, nos anos 70.

Neste dia de centenário, vou reproduzir aqui a resenha sobre o disco "Nelson Cavaquinho 100 - Degraus da Vida", publicada originalmente na revista Carta Capital.

Eternamente no coração da gente

Nelson Antonio da Silva foi um boêmio de voz rouca, compositor de primeiro nível e instrumentista cuja batida de violão jamais seria imitada. Cantou em suas músicas a trajetória da vida vadia, as angústias, amores e, principalmente, o medo da morte. Vendia sambas e dava parcerias em troca de um copo de bebida ou de uma noite em uma hospedaria. Mesmo assim, felizmente, grande parte de sua obra sobreviveu, cativando gerações de ouvintes. Foi como Nelson Cavaquinho que esta espetacular figura humana atingiu a fama, ainda que não ligasse para ela.

No próximo dia 28 de outubro, o sambista mangueirense completaria 100 anos. Ele que sempre desejou receber as “flores em vida”, recebe, 25 anos após a sua morte, um álbum-tributo. “Nelson Cavaquinho 100 anos– Degraus da Vida” reúne clássicos e raridades, apresentando um amplo panorama de sua obra.

O CD duplo foi idealizado e produzido por Rodrigo Faour, que garimpou o acervo da EMI (herdeira dos catálogos de antigos selos como Odeon, RCA Victor e Copacabana) e dividiu o disco em duas partes: “Sambas Consagrados” e “Sambas Guardados”.

O disco 1 destaca clássicos do compositor, alguns deles em sua versão original (e fora de cátalogo) como “Degraus da Vida”, lançado por Roberto Silva em 1950 e “Palhaço”, gravado por Dalva de Oliveira no ano seguinte. Outro samba consagrado apresentado em uma versão menos famosa é “Quando me chamar saudade”, com Nora Ney (1972). Há espaço, também, claro, para Clara Nunes, com “Juízo Final” e Beth Carvalho (“Folhas Secas”), artista que mais gravou Nelson Cavaquinho.

Para colecionadores, o disco 2 é o ouro: algumas das gravações ali contidas aparecem em formato digital pela primeira vez. É o caso de “Cigarro” (1953), com Risadinha, e “Se me der adeus” (1969), com Jorge Veiga. Márcia (“Mesa farta”), Jurema (“Sinal de paz”) e Blecaute (“Caridade”) também merecem destaque.

“Nelson Cavaquinho 100 anos – Degraus da Vida” leva a Nelson as flores, o choro de um pandeiro e um tamborim, fazendo de ouro seu violão.

Arte: Alexandre de Maio

27 de setembro de 2011

"A vitória do samba" ou "Um dia para a história da música brasileira"

De repente, encontrei-me na Portelinha, sede antiga da tradicional agremiação de Oswaldo Cruz. Confesso que senti uma grande emoção invadir-me o peito. Poucos lugares são tão representativos para o samba (música brasileira, cultura popular e verdadeira História do Brasil) como a quadra situada na Estrada do Portela, 446.  Local onde Paulo da Portela fez irradiar, para todo o Mundo do Samba, a civilidade. Foi lá que nasceram tantas e tantas pérolas de nosso cancioneiro. Sambas puros, espontâneos e sinceros. Feitos com o amor natural de quem gosta por que gosta, é inerente, sem explicação. Eles, os antigos portelenses, viveram o samba puro, espontâneo, sincero, de amor natural, inerente a vida, a cada dia e noite, inerente à própria respiração, batida de coração.

É a Velha Portela. E lá, a Portelinha é o espaço físico que representa isso tudo. É como se fosse um portal, uma representação real do irreal, do sonho, da imaginação. Porque somente na mais distante imaginação eu poderia viver o que vivi neste sábado que se passou. O desfecho de uma homenagem pura, espontânea, sincera, natural, ao centenário de Francisco Santana, glória do samba brasileiro, foi algo mágico. De fato, imaginávamos que seria algo jamais visto por nós, sambistas da nova geração, amantes da Velha Guarda e da linhagem de samba de terreiro que eles criaram e cultivaram em nossos sentimentos.

Não era por menos. Presentes ali, a fina flor da nova safra do samba brasileiro. Sim, porque quem trata o samba com o carinho e respeito que ele merece, sem encará-lo como um tipo de música qualquer, que pode ser tratado como mercadoria ou produto pseudocultural-comercial, só pode ser dignificado e louvado com com toda a distinção e deve receber estes elogios sem falsa modéstia. Porque são batalhadores, legítimos guerrilheiros culturais. Roda de Samba de Uberlândia, Glória ao Samba (São Paulo), Samba de Terreiro de Mauá , Terra Brasileira (São Paulo) e Projeto Resgate (Rio Grande do Sul): autênticos sambistas. Com a civilidade que Paulo da Portela tanto apreciou.

Bambas como Alfredão, Careca, Alexandre, Luiz, de Sumaré, o pessoal da Baixada Santista, do Movimento Cultural @migos do Samba.com e outros concientes sambistas também se fizeram presentes. Áurea Alves, que tantou faz por este samba (do qual estamos falando) no Rio de Janeiro, ajudava a organizar tudo, retribuindo a satisfação que encontrou nas rodas de samba em São Paulo. Dona Neide, filha do mestre homenageado, esbanjava alegria. A Velha Guarda não deixou de aparecer: Monarco, Valdir 59 e Dona Eunice, viam naqueles jovens a sequência que não se deu com a juventude portelense, que toca a bateria no carnaval, mas não traz o samba no sangue. Não este samba.

Servida a macarronada, formou-se a roda. Então entoou-se:

Portela
Suas cores tem
Na bandeira do brasil
E no céu também
Avante portelense para a vitória
Não vê que o teu passado é cheio de glória
Eu tenho saudade
Desperta oh! grande mocidade
As suas cores são lindas
Seus valores não têm fim
Portela querida
És tudo na vida pra mim

Creio que lágrimas rolaram nos olhos de praticamente todos ali. Mesmo nos mais brutos. Neste momento, Dona Eunice levantou-se, ergueu os braços. Vibrava por dentro. Voltava no tempo. Sérgio Cabral, que tantou viveu este mágico Mundo do Samba, também esteve presente e afirmou o mesmo: era um tempo que já havia se passado que, de repente, voltava. Era novamente a realidade diante de seus olhos.

Samba atrás de samba, cantou-se e louvou-se Chico Santana. Com a emoção crescente, os sambistas ganharam a rua. Destino: Praça Paulo da Portela, com seu busto representando um verdadeiro herói brasileiros, desses que realmente merecem uma placa, uma estátua.

E cantava-se, por muitas e muitas vezes, cada vez por mais gente, com mais força, com mais tamborins, cavaquinhos, cuícas e pandeiros: "Tu que tinhas vida de fidalga, hoje vive a pão e água, coisa que me comoveu...". Os carros passavam, muitos com motoristas apressados, indiferentes a magia que se desenrolava no asfalto, sequer sabiam que naquele local a História se escreveu e, naquele 24 de setembro de 2011, novamente era escrita. Outros riam, gostavam, vibravam, diziam, apontando para estátua de Paulo: "Esse é o mestre".

A emoção era extrema, dezenas (seria uma centena?) de sambistas, naquele momento foliões, cantavam junto a Paulo da Portela. Seus sambas eram relembrados, a homenagem ao "pacificador" - como foi grafado na placa - mais pura, espontânea, sincera e natural acontecia ali. O momento foi tão sublime que, por algum tempo, não mais que dez minutos, choveu. Nada que atrapalhasse o samba. Pelo contrário, todos entendíamos que o céu também chorava de emoção.

O tempo parou naquele momento. Era o auge, o momento maior de uma homenagem que começou em Uberlândia, passou por São Paulo, Mauá, Porto Alegre e agora terminava na casa do centenário mestre homenageado.

Um momento marcante na História do Samba. Por que não dizer da História Contemporânea do Brasil. Afinal, são esses nossos heróis. Sambistas. Foi despertada uma nova grande mocidade.

Hoje, mais do que nunca, e para sempre, sou um portelense.

22 de setembro de 2011

É hoje! Centenário de Francisco Santana



Hoje é centenário de Francisco Santana, baluarte da Portela. Para celebrar, reproduzo um texto que Fernando Pellegrino, o popular Tuco, escreveu e foi publicado no blog Receita de Samba.

Francisco Felisberto Santana, popularmente falando, Chico Santana. Este é o nome do Portelense que compôs o Hino da Velha Guarda da escola e também o Hino Portelense: "Avante Portelense Para Vitória"... Fiz juntamente com meu Parceiro Lo Ré um samba exaltação pra Chico Santana cuja letra, em determinada parte, diz: "Francisco Santana, gênio de pouca popularidade ..." e é com esse pensamento que falo um pouco para vocês desse sambista .

Chico, como todos os outros compositores portelenses, tem uma linha melódica e poética inconfundível. A Portela é de fato um celeiro de sambistas e seus compositores, apesar de terem características diferentes, são os que apresentam uma maior unidade em se tratando de composições, dentre as escolas de samba mais conhecidas do Rio de Janeiro. Chico Santana faria 100 anos em 2011 e seu maior parceiro foi o Monarco com quem teve inúmeros sambas gravados. O grande sucesso de Chico Santana foi " Saco de Feijão " gravado por Berh Carvalho em 1977. Monarco e inúmeros portelenses antigos consideravam Chico Santana o maior compositor que a escola já teve ... Era só começar um ensaio da escola e lá estava sendo cantado o Hino Portelense: " Portela suas cores tem na bandeira do Brasil e no céu tambem..."

No disco Passado de Glória (1970), registro que para mim mais representa a sonoridade daquilo que foi a Portela em se tratando de “Samba de Terreiro”, vemos dois sambas de sua autoria: "Vida de Fidalga" e "Vaidade de um sambista”. A minha identificação com esse disco e esses sambas foi muito forte... Me faziam imaginar aquele lugar, de tão forte que é a interpretação registrada naquele disco, e chorava feito criança ... Enquanto muitos comemoram tantos outros centenários, poucos lembram deste sambista. Mestre Chico Santana não teve a popularidade merecida, apesar de ser um gênio da nossa música, mas é para isso que estamos aqui tentando registrar nessas linhas este grande compositor.

16 de setembro de 2011

Clara Nunes em 1982 no Morumbi com 100 mil pessoas!

100 mil pessoas no Morumbi num show de SAMBA! Nada de Paul McCartney, Metallica, Pink Floyd... Uma multidão reunida para escutar a tradicional múisca brasileira em 1982. Voltaremos a ver isso?

28 de agosto de 2011

Matéria sobre a Lavapés para o Catraca Livre

 publicado originalmente em 25/08/11 no site Catraca Livre

"Lavapés, a pioneira, na Praça do Samba neste domingo"
por André Carvalho

Foi no carnaval carioca de 1936 que Deolinda Madre e Francisco Papa se encantaram com o desfile das Escolas de Samba na lendária Praça Onze. Em São Paulo, nas rodas de samba da baixada do Glicério, na Liberdade, Madrinha Eunice e Chico Pinga – como ficaram conhecidos na historiografia do samba paulista -, juntamente com Zé da Caixa (José Madre, irmão de Deolinda), amadureceram a ideia de levar a novidade da Guanabara para o Carnaval das ruas do Brás.

As tradicionais Vai-Vai e Camisa Verde e Branco eram, à época, cordões e desfilavam ao som da “marcha sambada”. E, a despeito do pioneirismo da efêmera Escola de Samba Primeira de São Paulo (surgida pouco antes, mas de vida curta), a Sociedade Recreativa Beneficente Escola de Samba Lavapés, fundada em 9 de fevereiro de 1937, é a mais antiga escola de samba paulistana em atividade. Cabe ressaltar que a Lavapés, ao contrário dos rivais, tocava samba no chamado “tríduo momesco”.

Se o carnaval dos dias atuais valorizasse tradição e história, a Lavapés teria posição de destaque no grande espetáculo de fevereiro, no Sambódromo do Anhembi. Afinal, possui 19 títulos e contou, ao longo de sua história, com nomes como Doca, Popó, Jangada, Xangô, Geraldo Filme, Inocêncio Mulata e Carlão do Peruche. Mas o fato é que hoje a Escola de Samba se encontra no Grupo 4, última divisão, e não conta mais com subvenção da Prefeitura de São Paulo.

Ações para o resgate, no entanto, já estão sendo realizadas. O Kolombolo Diá Piratininga, agremiação que batalha pela afirmação do samba paulista, prepara, atualmente, um disco em homenagem à Escola e fomenta a realização de atividades que possam gerar receita e maior visibilidade para a Lavapés, que precisa, afinal, desfilar em fevereiro de 2012.

Neste domingo, 28, a partir das 14h, a roda de samba mensal promovido pelo Kolombolo na Praça do Samba, recebe integrantes da Lavapés, incluindo a presidente Rosemeire Marcondes (neta da fundadora, Madrinha Eunice). A entrada é Catraca Livre.

“Lavapés é a minha casa, minha vida, minha família”

Presidente da Lavapés desde 1996, quando herdou o bastião de sua avó, Madrinha Eunice, que falecera, Rosimeire batalhou para levar a Escola a uma posição de destaque no Carnaval. Há sete anos, porém, a agremiação sofreu um duro golpe, quando perdeu sua quadra. “Minha casa virou a sede da Lavapés”, afirma a sambista.

Perspectivas otimistas, todavia, têm surgido. Há a possibilidade da Escola receber a doação de uma nova sede e voltar a desenvolver ações sociais como oficinas de percussão e dança, bem como a instalação de um telecentro para a comunidade no local. Tudo gratuito. “Precisamos unir a cultura popular ao social. Unindo forças, podemos nos levantar novamemente”, diz a presidente da Lavapés.

Para o desfile de 2012, o enredo e os figurinos já estão prontos. E Rosemeire clama a participação de foliões, para conseguir tirar a Lavapés do Grupo 4: “A fantasia é de graça, só precisa pagar a sapatilha”.

Lembranças de carnavais passados

Rosemeire traz na memória histórias de um tempo em que o samba e o carnaval eram impregnados de romantismo. “Minha avó nos levava para Pirapora, víamos toda aquelas celebrações, era uma infância muito boa”, garante.

Nos carnavais, a menina Rose saía de baiana, outro pioneirismo que a Lavapés levou para os desfiles paulistanos. “Era desconfortável”, atesta, relembrando os tempos idos.

O Dia Nacional do Samba, celebrado no dia 2 de dezembro, também traz boas recordações. “Às seis da manhã, com a alvorada, a batucada saía às ruas”.

Hoje, os tempos são outros, o carnaval é outro. Mas domingo, diferentemente do que acontecerá no Sambódromo em fevereiro do ano que vem, a história e a tradição virão em primeiro lugar. “Domingo, queremos resgatar a história do samba paulista e trazer o público para conhecer a Escola”, afirma, otimista, Rosemeire, já vislumbrando dias melhores para a Lavapés.

23 de agosto de 2011

Aluísio Machado no Anhangüera

Imperiano, bamba, craque, baluarte. Nesta sexta-feira, no Clube Anhangüera, reduto do samba paulistano.


9 de agosto de 2011

Guerreiras do samba

As mulheres, historicamente, atuaram dentro do mundo do samba como pastoras, ou seja, eram elas as responsáveis para fazer o samba "pegar", ou não, dentro do terreiro (posteriormente quadra). Avaliando-as como quituteiras de mão cheia, que cozinhavam para que a "tropa toda pudesse brincar direitinho", temos uma visão simplista da história, já que foram elas, as "tias baianas" do Rio de Janeiro quem abrigaram as primeiras rodas de samba, os primeiros encontros de sambistas. Foi graças à hospitalidade e organzição destas mulheres como Tia Ciata, Dona Esther e Tia Fé, que o samba nasceu.

Mesmo assim, o samba e os sambistas, ao longo dos tempos, foram tachados de machistas, um reflexo da sociedade, pois. Cantavam, mas não compunham. Ou compunham, mas não alcançavam espaço. "Catituar" sambas, ou seja, arranjar espaço para gravação não era algo fácil para quem era vista como o "sexo frágil". E o que falar de mulheres instrumentistas? Poucas se arriscaram, poucas apareceram. Talvez o choro ainda abrigasse mais delas, mas o samba não.

No entanto, neste ano de 2011, no dia 5 de agosto, um importante acontecimento se deu em São Paulo. Desmistificador, rompeu tabus e quebrou paradigmas. Uma imensa roda de samba composta por mulheres que pertencem ao Movimento Cultural @migosdosamba.com abalou as estruturas da Ação Educativa e mostrou que as mulheres podem, sim!

Se elas ainda não assumiram a direção musical (os instrumentistas da roda eram todos homens), por outro lado, mostraram que são extremamente competentes em montar um repertório à altura da importância histórica que representam em nossa sociedade. Trocando em miúdos, as mulheres, razão plena de nosso viver, deram as caras e disseram: "somos sambistas organizadas, podemos cantar nossos anseios, nossas angústias, nosso viver e vamos varrer o machismo que impera no samba desde o dia em que os bambas do Estácio de Sá disseram que amor é o de malandro".

Há tempos não me emocionava como me emocionei nesta sexta-feira. As @migas, lindas, altivas, altaneiras, soltaram a voz e mostraram para que vieram. Um dia glorioso para o samba, sem sombra de dúvidas.


Momento sublime aquele em que ecoou os versos "Um dia, um ser de luz nasceu, numa cidade do interior...". Era a Clara Guerreira, abençoando a todas. Ela estava ali, sem sombra de dúvidas.

Vi todo o anseio destas mulheres realizarem este sonho, desde o início. Como me surpreendi, como vibrei, como me emocionei!

Gostaria de, através deste modesto espaço, parabenizar todas as mulheres. Não só as "amigas do samba", não só as mulheres do samba, mas sim, todas elas.

Continuem a luta, o samba e a sociedade precisam de vocês.

27 de julho de 2011

Ary do Cavaco no Anhangüera

Nesta sexta-feira, quem esquenta os tamborins e põe os populares para machucar o jiló no Clube Anhangüera é o sambista Ary do Cavaco, partideiro de primeira que há muito não era lembrado para uma sincera e justa homenagem.

A roda começa às 22h, o sambista entra em cena por volta da meia-noite e aí... Aí a cobra fuma, o chicote estala e só quem estiver lá vai ver o que será. Bora lá, Brasil!

5 de julho de 2011

O samba hoje

Quem são estes sambistas que fazem de seus cavacos, violões e pandeiros, suas próprias vidas? O passado de glória do samba brasileiro ilumina, o presente se enfeita de melodias e um ritmo pulsante e o futuro promete cada vez mais luz à nossa maior manifestação artística e cultural.

Estamos no início da década de 10 do século XXI. Lá se vão muitas décadas desde que a turma do Estácio de Sá resolveu sincopar ainda mais o ritmo sincopado que já esquentava os bailes da cidade do Rio de Janeiro. Era maxixe, música com forte herança europeia. Era música de salão, tocada com piano e muitos instrumentos de sopro. Era um samba muito branco, europeu. Com a batucada africana, as cordas ibéricas, o pandeiro árabe e os chocalhos indígenas, um novo samba se fez. Até hoje, é esse samba que sambamos.

Veio a Era de Ouro do rádio, os instrumentos de batucada invadiram os estúdios e as rádios. Os conjuntos regionais, muitas vezes com uma batucada de Escola de Samba cheio de peso conquistou o Brasil. O tempo passou, veio o bolero, a bossa nova, o rock e o ieieiê. O samba saiu da mídia. Mas permaneceu sendo feito nos lares, bares e esquinas. Nos vagões de trem, ao voltar do batente, muitos sambistas fizeram grandes páginas de nosso cancioneiro.

Nunca morreu, nem tampouco agonizou, como certa vez se cantou. Nos anos 60, valorizou-se o sambista novamente. Foi com Martinho, Paulinho e Clara que voltou às paradas de sucesso. Altos e baixos nas décadas seguintes. Anos 80 e 90 foram de sombra para o sambista que almejava seguir a linha de um samba estaciano, com as características que foram moldadas ao longo de algumas décadas. 

Se o Cacique de Ramos introduziu novos instrumentos, alterou a síncope e apresentou novos nomes, isso é uma outra história. Afinal, o samba é dinâmico e flexível. O que é importante ressaltar é que o samba "velho", "duro", carioca do Estácio de Sá, sobreviveu às modernidades. Não, ele não foi substituído pelo samba do Cacique, coexistiu, sobreviveu e hoje está aí, mais firme que qualquer o "outro", moda nos anos 80. A moda passa.

Nos anos 90, a agonia ocorria nos meios fonográficos, mas em São Paulo se iniciou a retomada. "Mutirão do Samba", "Projeto Nosso Samba", "Samba da Vela"... Depois o "Morro das Pedras" e tantas coisas boas que vieram na esteira. Na roda de samba, o ritmo vivia.

Era o samba, novamente esquentando corações. Melodias ricas como as de portelenses como Paulo da Portela, Alcides, Aniceto, Manacéa, Mijinha, Alvaiade. Cartola, Carlos Cachaça, Zé Ramos, Nelson Cavaquinho, Nelson Sargento da Mangueira. Silas, Mano Décio e Mestre Fuleiro. Anescar, Noel Rosa de Oliveira (não confundir com o xará de Vila Isabel). Os professores Edgar, Rubens, Ismael, Nilton e Noel da Vila. 

Eram eles que voltavam à boca do povo. E no Rio, o processo acontecia com o renascimento da Lapa, ainda que lá envolvesse dinheiro, bares descolados e uma aparelhagem técnica à la Woodstock. A "nova Lapa", no entanto, apesar de renascer assim, nos trouxe ótimos nomes: Teresa Cristina, Alfredo Del Penho, Pedro Paulo Malta, Pedro Amorim, Pedro Miranda, entre outros.

Mas foi em São Paulo, no ano de 2007, que tudo mudou. O ano começou com um show no Teatro Fecap. Li no jornal: "Terreiro Grande, grupo formado por ex-integrantes do Grêmio Recreativo de Pesquisa e Tradição Morro das Pedras, acompanha Cristina Buarque neste espetáculo do Teatro Fecap". Tomei um susto. Não sabia que o Morro tinha acabada, não sabia que o Terreiro seria a semente das mudanças que viriam daí pra frente.

O show, divinal. O disco, aquele de capa azul com um tamborim, de foramato francamente anticomercial, despertou paixão Brasil afora. Em várias cidades, o "samba de terreiro" (algo ainda mais restrito e específico que o "samba de raiz") ganhou força: Porto Alegre, Uberlândia, Santos, Rio e claro, São Paulo em suas dezenas de quebradas.

Era a era romântica. Presenciar uma roda do Terreiro Grande era uma delícia, algo mágico que levarei em minha mente até o fim de meus dias. São Paulo pulsava samba. Surgiram os @migos do samba.com, grande e representativa agremiação de sambistas de vários costados da capital paulista, que luta pela valorização do samba. Me orgulho de pertencer a este celeiro de bambas.

Foi-se o Terreiro Grande, surgiu o Batalhão de Sambistas, capitaneado pelo gogó dourado Tuco. E o samba seguia conquistando corações, mentes e almas. O disco "Peso é Peso", joia rara, que beleza!, é ouro só. Bem como seu lançamento, num sítio em Atibaia repleto de sambistas, que fim de semana histórico.

E vieram as homenagens a Chico Santana, e surgiu o Programa É Batucada!, o Bloco de Samba Pega o Lenço e Vai. Nasceu o jornal "O Amigo do Samba"...

Minhas armas foram se tornando cada vez mais letais. Colaborando com a revista Carta Capital, pude levar aos mais distantes rincões do Brasil informações sobre o disco do Tuco, do Wilson das Neves, do livro sobre o Estácio de Sá... Mais armas vieram às minhas mãos. Editando a Agenda São Paulo, no site Catraca Livre, é mais espaço pro samba!

E seguimos resistindo, na trincheira. Compondo, cantando, versando, louvando. 

E salve Tia Cida, Cebola, Paulão, Laurinha, Seu Mangueira, Seu Jair e tantos bambas das antigas. E salve a nova geração, que batalha tanto! Favela e seu Anhanguera, Bigode, Timor, rapaziada de Mauá, Terra Brasileira, Glória ao Samba, Samba na Feira, Resgate, Uberlândia e todos que batalham pelo samba. Alexandre do Morro e todos aqueles que participaram deste movimento. Careca, pessoal do Batalhão de Sambistas, Douglas Germano... Aos não citados, mas não olvidados, também dou meu salve.

E avante na luta!!

16 de junho de 2011

Samba das Flores neste sábado

As talentosas cantoras Flora Poppovic, Mari Furquim e Paulinha Sanches comandam mais um "Samba das Flores" neste sábado, na Serralheria. Oportunidade de ouro para ouvir um bom samba, tomar uma boa cachacinha e espantar o frio junino. Vamos nessa?

A Serralheria fica na Rua Guaicurus, 857. São 15 paus para entrar e a casa só aceita dinheiro vivo.


7 de junho de 2011

3ª edição do "É Batucada!"

Mais uma edição do programa É Batucada! no ar. O entrevistado, desta vez, é o professor Valmir Araújo, sobrinho-neto de Geraldo Pereira.

A seguir, transcrevo o texto que fiz para introduzir a entrevista e disponibolizo o link.

"Geraldo Pereira é considerado um dos ícones do samba brasileiro. Sambista do primeiro time, desenvolveu um estilo que o consagrou: o samba sincopado. Sua divisão de ritmo e melodia foi matéria prima para a composição de sambas que entrariam para história. "Sem compromisso", "Falsa baiana" e "Escurinha", entre tantas outras, estão presentes em qualquer antologia da música popular brasileira.

O compositor chegou a gravar alguns sambas, e cantava muito bem. Mas foi mesmo como compositor que se consagrou. Suas canções atravessaram inúmeras gerações de cantores e cantoras e ainda estão presentes em shows e rodas de samba. Lenda que é, teve uma morte polêmica e controversa. A tese mais aceita é que teria sido golpeado pelo "valente" Madame Satã e não resistiu aos ferimentos.

Para contar um pouco sobre a vida e obra de Geraldo Pereira, o Programa É Batucada! conversou com seu sobrinho-neto, Professor Valmir Araújo, pesquisador, coordenador e presidente do Centro de Artes Geraldo Pereira, no Rio de Janeiro. Confiram!!!"

1 de junho de 2011

Lançamento do jornal "O Amigo do Samba"

O Couro do Cabrito, em parceria com o co-irmão Vermute com Amendoim, tem a honra de promover, em primeira mão, a divulgação simultânea do novo veículo de comunicação dos sambistas, o jornal "O Amigo do Samba", produzido pelo Movimento Cultural @migosdosamba.com.

Será uma publicação bimestral onde serão abordados temas históricos, novidades, críticas e outros assuntos relacionados ao nosso SAMBA. 

É uma conquista para todos nós que valorizamos o ritmo mais brasileiro.

Clique aqui para baixar.


27 de maio de 2011

Projeto Anhangüera dá Samba, 4

Hoje tem Wilson das Neves no Clube Anhangüera. Roda de Samba comemorativa aos 4 anos de Projeto. Bora lá?

Adriana Moreira canta Batatinha

(publicado originalmente no site Catraca Livre)

Sambista baiano Batatinha recebe homenagem no Espaço AFROBASE
O compositor baiano Batatinha é considerado um dos gênios esquecidos do samba. Talento do primeiro time de sambistas, ao lado de nomes como Cartola e Nelson Cavaquinho, Oscar da Penha fez sua carreira em Salvador, lançou poucos discos – sem sucesso comercial -, viveu sem fama e luxo e morreu pobre. Sua obra, porém, entrou para a história da música brasileira e hoje tem seu nome cada vez mais valorizado. Prova disso foi o disco-tributo gravado por Adriana Moreira em 2006, “Direito de Sambar”, que será interpretado pela própria cantora num show gratuito neste próximo domingo, 29, às 15h, no espaço AFROBASE.

O espetáculo faz parte da série “Escola de Samba”, projeto que busca difundir e valorizar sambistas com eventos Catraca Livre no Rio Pequeno. Já passaram por lá Osvaldinho da Cuíca, Dona Inah, Quinteto em Branco e Preto, Dinho Nascimento, Renato Anesi, Tião Carvalho e Toninho Carrasqueira.

Adriana Moreira nasceu em berço de samba, tendo sido criada em meio à muitas rodas na Escola de Samba Camisa Verde e Branco. Participou do importante movimento de compositores denomindado “Mutirão do Samba”, nos anos 90 – que deu origem a outros projetos na década posterior. Além da pesquisa à obra de Batatinha, atualmente também dedica atenção, ao lado dos “crooners” Tuco e Roberto Seresteiro” à pesquisa de canções do Trio de Ouro (formado nos anos 40, por Herivelto Martins, Nilo Chagas e Dalva de Oliveira).

No repertório do espetáculo, clássicos como “Diplomacia”, “Direito de Sambar” e Imitação” serão interpretados.

14 de maio de 2011

Homenagem a Nelson Cavaquinho (Zé Keti)




Homenagem a Nelson Cavaquinho (Zé Keti)


Compadre Nelson Cavaquinho
Onde anda você
Já me disseram que deixaste de beber
o seu conhaque
Sua Genebra bem amada
em suas mil ou mais moradas.
Você cantava a noite inteira
Com a batida diferente do seu violão
E nos bares da cidade
Bebia um vinho rascante
A rouquidão em sua voz era constante,
bem constante
E na Praça Tiradentes
Cantava seus sambas prá gente
depois saía com a viola prá lugares diferentes
A Lua foi sua companheira
E hoje está de luto com a Estação Primeira
A Lua foi sua companheira
E hoje está de luto com o Morro da Mangueira
Sabemos que o Brasil
e o mundo inteiro te conhece
Eu bato palmas prá você
porque você merece
Onde anda, eu quero ver o seu parceiro
O Guilherme deve estar coroa
E aqui prá nós
A dupla é muito boa
Eu tambem já compus alguma coisa
Já fiz sambas com você
Se hoje sou poeta, tive muito que aprender
Enriqueceu os versos meus
O meu muito obrigado, adeus
meu criador

3 de maio de 2011

Tuco, Batalhão e Monarco? Pesou!

O Clube Anhangüera (com trema, sempre!) há tempos tornou-se um importante reduto de samba da cidade de São Paulo. Ao longo de quase quatro anos, vem brindando os sambistas com regulares, agradáveis e hoje tradicionais rodas de samba no seu festejado "Projeto Anhangüera dá Samba". Poucos meses atrás, foi palco de um espetacular encontro de sambistas na belíssima homenagem prestada ao genial compositor da Portela, Francisco Santana. Tantos adjetivos assim, na mesma oração, demonstra que lá vem coisa boa para honrar esta garbosa história.


Tuco e Batalhão de Sambistas agora também farão parte desse enredo. O destacado conjunto, capitaneado pelo "crooner", será acompanhado pelo mestre, genial portelense Monarco, que voltará à várzea anhangüerense para mostrar que está velho, mas ainda não morreu, como reza o hino da Velha Guarda da Portela.

Para os leitores sentirem o drama, as duas faixas com participação do Monarco no disco "Peso é Peso". Ambas inéditas até este portentoso registro. 

Velha Portela (Monarco)
Secretário da Escola (Monarco - Picolino da Portela)


Serviço:

Tuco & Batalhão de Sambistas convidam Monarco
Local: Clube Anhangüera
Endereço: Rua dos Italianos, 1261 – Bom Retiro – São Paulo - SP
Data: 06 de maio (sexta-feira)
Horário: a partir das 22h
Valor: 15 reais

19 de abril de 2011

O carreté do coroné (Manezinho Araújo)

GRANDES BRASAS DA HISTÓRIA

Brasa de 1939!!


O carreté do coroné (Manezinho Araújo)


Seu Coroné comprô um automovi
Que todo dia sobe na ladeira do Migué
Seu Coroné comprô um automovi
Que todo dia sobe na ladeira do Migué


Tem um espeio que só à luz do dia
Pode sua famia passeiá quando quise
E o carreté imbolando pelo chão
Eu vou é trabaiá no caminhão do coroné


Seu dotozinho comprou um carro forte
Otra coisa mais mió garanto que ele não qué
Seu dotozinho comprou um carro forte
Otra coisa mais mió garanto que ele não qué


Quando ele chega e si dana lá pra usina
Apertando a buzina enche o carro de muié
E o carreté imbolando pelo chão
Eu vou é trabaiá no caminhão do coroné


Lá na usina chego dois caminhão
Qui carrega da estação cana modi faze mé
Lá na usina chego dois caminhão
Qui carrega da estação cana modi faze mé


Seu dotozinho carrega a mulé dos homi
Tá bancando o lobsomi tendo o carro chevrolé
E o carreté imbolando pelo chão
Eu vou é trabaiá no caminhão do coroné


Seu Tolentino que é chefe de um angá
Deu a fia pra casá ao fio do coroné
Seu Tolentino que é chefe de um angá
Deu a fia pra casá ao fio do coroné


E todo dia ele pega o seu amô
arremexe no motô ensinando a ser chofer
E o carreté imbolando pelo chão
Eu vou é trabaiá no caminhão do coroné


Doje por diante vo largá o meu emprego
Por causa do chamego do dotô com essas mulé
Doje por diante vo largá o meu emprego
Por causa do chamego do dotô com essas mulé


Esses passeio nesses carro no escuro
Isso é negócio duro só mesmo quem tem ané
E o carreté imbolando pelo chão
Quero ve quem trabaia mais no caminhão do coroné...

10 de abril de 2011

Fotos: Paulinho da Viola no Sesc Pompeia


Fotos: Marcelo Martins

Paulinho da Viola, o casamento entre a elegância e o samba

Que grande prazer é poder conferir um espetáculo de Paulinho da Viola, gênio da música mundial contemporânea, exemplo de vida e de serenidade. 

Sambista de respeito, chorão de primeira categoria, padrinho e idealizador da Velha Guarda da Portela,  compositor de partido alto e samba enredo, Paulo César Batista Faria, nosso ministro do samba, um dos maiores. Há 15 anos sem gravar um disco com sambas inéditos, ainda pode nos brindar com apresentações memoráveis. 

Nesta última sexta-feira, no Sesc Pompéia, fez um inesquecível show, interpretando um repertório "lado B". Quem era fã, se deliciou com sambas que jamais sonhariam ouvir num concerto de Paulinho da Viola.

No acompanhamento, estavam músicos acostumados a tocar com Paulinho em palcos e estúdios há tempos. Foi um grande prazer poder ver e ouvir Cristovão Bastos, excelentíssimo pianista e arranjador de dezenas de sambas do grande portelense. 

Hércules, na bateria, também mantém a mesma elegância que caracteriza Paulinho da Viola. Aliás, o conjunto todo carrega esta elegância "à la Paulinho da Viola": Celsinho Silva faz carinho no pandeiro quando toca, Mário Seve, nos instrumentos de sopro, dá um toque sutil e refinado nas canções e João Rabello - o filho -, aos poucos vai ocupando bem o espaço que foi por décadas de César Faria - o pai-, este sim, aquele que ensinou tudo de "elegância musical" para Paulinho.

O belíssimo repertório - parecido ao que ele apresentou no Teatro Fecap em 2010 - trazia sambas de compositores da Portela (Zé Keti, Monarco, Chico Santana, Noca, Mijinha) e da Mangueira (Cartola, Carlos Cachaça, Nelson Cavaquinho), exaltação ao seu bairro, Botafogo e a seu parceiro, Elton Medeiros. Trouxe um samba de Valzinho (com Peterpan) e parcerias com Capinan e, como não poderia de ser, com o próprio Elton, o mais constante deles.

O início se deu com o belíssimo samba "Portela Feliz", de Zé Keti, aquele que acrescentou o "da Viola" a seu nome, ainda nos tempos do Zicartola, nos anos 60. Sob um silêncio absoluto, Paulinho e seu cavaquinho - e  nada mais - abriram o espetáculo já mostrando qual seria a linha da apresentação: só peso na balança!

Depois, seu bairro foi louvado com "Botafogo, Chão de Estrelas", parceria com Aldir Blanc. E dá-lhe sambas  lado B, pouco conhecidos e interpretados nas rádios ao longo das décadas, mas de extremo valor (e que honra por ouvi-los em uma apresentação ao vivo). "Brancas e Pretas", Cidade Submersa", Vela no Breu", "Orgulho", clássicos de pouca popularidade. Diferente de "Ame" e "Quando bate uma saudade", na ponta da língua dessa Brasilão afora.

"Um cara bacana", é uma homenagem a Elton Medeiros, mais que justa, numa interpretação garbosa, com piano, violão e tamborim. "Elton Medeiros, orgulho do samba do Brasil!". Paulinho também lembra de Ciro Morteiro quando canta "Pintou um Bode". "Fiz este samba pensando nele. Pensava nele cantando esta composição", lembrou.

Paulinho da Viola transpira serenidade. Traz sempre consigo um semblante tranquilo, calmo e alegre. Estava à vontade no palco do Teatro do Sesc Pompeia. Lembrava dos velhos amigos e de seus inspiradores. Um deles é Valzinho, autor, com Peterpan, de "Tudo foi surpresa". 

Capinan, grande letrista, também foi lembrado em "Canção para Maria", uma bela parceira com as melodias de Paulinho, que relembrou seu primeiro encontro com o compositor baiano e o nascimento da canção: "Ele chegou até mim e me disse: 'Eu sou Capinan, e queria fazer uma parceria com você'". A música tirou o terceiro lugar no II Festival da Record, e foi à cera num disco de Jair Rodrigues e num compacto raro de Paulinho. "Só eu devo ter este disco", apostou.

Os músicos estavam felizes. Nada de tensão, nada de preocupação em não errar. Eles sabiam o que estavam fazendo, não iriam errar. São músicos experientes e sambistas. Aliam a criatividade do improviso à disciplina que se deve ter para ler as partituras com os arranjos com exatidão no palco. Todos, exceção feita a João Rabello, tinham a cabeça branca, de quem já tomou muito sereno em rodas de samba e choro. Isto chama-se experiência.

Outro ponto alto do show foi a interpretação do choro "Inesquecível", mais uma homenagem feita por Paulinho presente neste espetáculo onde ele relembra grandes nomes que influenciaram sua carreira. Desta vez as honrarias são para Jacob do Bandolim. Cristovão Bastos e Mario Seve, piano e sax, levaram a plateia à emoção.

A Portela também foi bem lembrada. Além do samba do Zé Keti que abriu o show, Monarco e Chico Santana ("Lenço"), Noca ("Peregrino") e Mijinha ("Chega de Padecer") estiveram representados. E sambas  da Mangueira consagrados não ficaram de fora. "Não quero mais amar a ninguém" (Cartola, Carlos Cachaça e Zé da Zilda) e "Não te dói a consiência" (Nelson Cavaquinho, Antonio Garcez e A. Monteiro), duas pérolas.

No fim, cantou "Boiadeiro" (folclore) para Fernando Faro e, à capela, mais uma vez sobre um respeitoso silêncio sepulcral, fechou com "Tava Drumindo". Deu pra sentir a presença da Rainha Quelé. A emoção foi geral.

No bis, a platéia já estava sambando. Era o "gran finale" de um espetáculo digno da grandeza de Paulo César Batista de Faria, nosso grande Paulinho da Viola, grande mestre da cultura brasileira.

Avaliação: ***** (espetacular)

7 de abril de 2011

Paulinho da Viola no Sesc Pompeia

Paulinho da Viola, gênio da música brasileira, se apresenta neste fim de semana no Teatro do Sesc Pompeia. Os ingressos se esgotaram rapidamente. Nesta sexta-feira estarei lá e depois deixarei minhas impressões aqui.

4 de abril de 2011

Samba de Sambar do Estácio (Humberto Franceschi)

(Publicado originalmente na edição 631 da revista Carta Capital)


Escrito pelo pesquisador musical Humberto Franceschi e editado pelo Instituto Moreira Salles, Samba de Sambar do Estácio - 1928 a 1932 é um estudo sobre um período de fundamental importância na história da música brasileira: a transformação do samba amaxixado em samba batucado.

Os sambistas do bairro carioca do Estácio de Sá, dotados de grande sensibilidade musical, foram os responsáveis por esta mudança. Nomes como Ismael Silva, Heitor dos Prazeres, Bide, Nilton Bastos, Baiaco, Brancura, Getúlio Marinho, Bucy Moreira, Mano Rubem e Mano Edgar criaram um novo ritmo, com andamento mais acelerado, cadência mais marcada e grande riqueza melódica. Feito na medida para ser cantado no desfile de carnaval. Era “o samba de sambar”, que em nada lembrava o velho maxixe.

Contando com valiosos depoimentos de alguns remanescentes do grupo, o autor também se vale de sua grande coleção de discos em 78 rotações por minuto para analisar a obra destes compositores que, num curto espaço de tempo (apenas quatro anos), mudaram o formato do ritmo que se estabeleceria em pouco tempo como o mais popular do país.

O texto, crítico e direto, traz elucidativos capítulos sobre temas relevantes do universo mítico do samba como os desfiles na Praça Onze, as rodas de batucada, os encontros nas casas das tias baianas, as Festas da Penha, o surgimento e o desaparecimento da Deixa Falar (primeira escola de samba) e a relação destes sambistas com a prostituição, o jogo e a valentia. Para amarrar melhor as idéias, a edição traz ainda um DVD multimídia com fotos, depoimentos, músicas e um mapa da região datado de 1935.

O prefácio é assinado por outro “bamba” da historiografia da música brasileira, José Ramos Tinhorão. E cabe destaque o levantamento inédito da obra gravada dos compositores do Estácio, com grande riqueza de informações.

Trata-se de um grande documento de estudo do samba, com dados de quem não só estudou, mas conviveu com alguns destes importantes personagens na construção da música brasileira.

Avaliação: ***** (excelente)


Samba de Sambar do Estácio
Autor: Humberto Franceschi
Editora: Instituto Moreira Salles
Ano: 2010
Preço sugerido:  R$ 50,00
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